terça-feira, 31 de maio de 2011

Acessibilidade começa em casa...no meu caso no apartamento...

No último dia 4 de abril, finalmente, recebi o meu apartamento funcional acessível.
Quem tem deficiência física sabe bem o que quero dizer com “finalmente”.
Nesses três meses de moradia na Capital do País eu enfrentei toda a sorte de desconforto em razão de falta de condições de acessibilidade.
Subi escadas e fui encaminhada as tribunas e mesas de eventos nos braços das pessoas, por falta de rampas e plataformas.
Em minha moradia provisória, tive até que providenciar a retirada de box de banheiro e criar acessos alternativos.
É claro que tive a compreensão e empenho de todos os envolvidos com as questões de acessibilidade da Câmara. Mas desentortar o que foi construído simplesmente ignorando nossa existência (pessoas com deficiência) não é tarefa simples. Ainda mais quando se trata de um patrimônio histórico, que requer todo um estudo para que se realizem as adaptações sem interferir no projeto inicial.
De saldo: em apenas três meses conheço as instalações da Câmara como ninguém; os servidores de meu gabinete vem perdendo peso e adquirindo mais fôlego, de tanto correrem empurrando minha cadeira (já que a falta de acessibilidade me faz ficar mais dependente da ajuda das pessoas); fiz ótimas amizades com o pessoal da Câmara e do Senado, envolvido com as questões de acessibilidade das duas Casas; as minhas próprias dificuldades na moradia me deram mais força e argumentos para lutar pela previsão de acessibilidade e cotas para as pessoas com deficiência no Programa Minha Casa, Minha Vida (falo sobre ele na nossa próxima conversa).
Fui a primeira parlamentar a receber a moradia funcional reformada e acessível. Ficou tudo muito bom. Muito bom, mesmo.  Apenas o lavabo não comporta a passagem de minha cadeira. Mas ele ficou com essa dimensão justamente para melhorar a acessibilidade de outras áreas. Não chega a ser um problema.  Nada é perfeito.
Os apartamentos funcionais dos deputados tem, em média, 240m². Na reforma, receberam novos sistemas elétricos e hidráulicos, e painéis solares para o fornecimento de energia. O piso de tacos foi trocado por porcelanato, e as antigas esquadrias, que estavam enferrujadas, foram substituídas. Cozinhas, banheiros e áreas de serviço também foram renovados e os elevadores trocados.
A Câmara conta com 432 apartamentos funcionais. A previsão é de que todas as quatro unidades do primeiro andar de cada prédio serão adaptadas para as pessoas com deficiência.  Assim vem sendo com os prédios que já foram entregues.
As unidades adaptadas contam com barras laterais no banheiro, cadeira móvel para o banho, portas mais largas, armários e móveis mais baixos.
Essas obras se iniciaram em 2008 e a previsão é de que em 2012 todos os apartamentos funcionais estejam reformados, o que é visto como uma valorização do patrimônio da União e redução drástica de gastos com auxílio-moradia.
Terei como vizinhos a Deputada Mara Gabrilli e o Deputado Walter Tosta.
Seremos todos instalados em andares mais baixos, para facilitar possíveis planos de evacuação em caso de incêndio ou outras intempéries e imprevistos.  Todos esses cuidados são resultado de estudos realizados pelo pessoal do Programa de Acessibilidade da Casa, inclusive a prioridade de recebimento da moradia pelos parlamentares com deficiência.
Sou uma deputada que “pega no pé”, que o diga o 4º secretário da Câmara, Deputado Júlio Delgado,  responsável pelo sistema habitacional da Câmara, em cuja porta do gabinete fiz acampamento (risos).
A Deputada Mara Gabrilli me chama carinhosamente de “espoleta”.
Já estou sendo chamada de “Fiscal da Acessibilidade” da Câmara (risos).
Outro dia me vi ligando para a gerente do programa de acessibilidade da Câmara para informar que determinado banheiro acessível, num corredor distante demais, e improvável de ser utilizado por mim, estava com a lâmpada queimada.  O fiz pessoalmente.
Me preocupo com as coisas grandiosas. Mas busco ir ajustando as pequenas coisas que encontro no meu caminho. É de minha natureza.
Nesses três meses também subi e desci de aviões de forma que me trazem reflexões sobre como atuar para que esse traslado seja algo realizado com dignidade e segurança.  Sobre isso, conversaremos em outra ocasião, quando eu já estiver com as idéias mais amadurecidas nessa área.
Tem quem esteja surpreso como minha ativa rotina de trabalho na Câmara. Dizem que é “fôlego de principiante”, que “daqui há pouco estabiliza”.
Digo-lhes que não!
Quem pensa assim, de fato, não me conhece. Não pulei de pára-quedas e caí na Câmara dos Deputados, num belo dia, por acaso. Tenho uma trajetória de ativismo que já se pode considerar longa, pois iniciada ainda na adolescência. E minha paixão pelas minhas lutas ocorre, principalmente, porque não me sinto batalhando pelos direitos e cidadania de pessoas que observo lá ao longe.
Sei que luto por mim mesma. Por um mundo cada vez mais acessível e inclusivo para mim também.  E isso me dá força. Muita força e crença. 
Não vou parar e nem retroceder, vou logo avisando!
Posso até fazer voltas e mais voltas para desviar dos obstáculos e atingir meus objetivos.  Mas não os perderei. Eles não sairão de meu foco.  E acessibilidade é um desses objetivos.
Quando luto pelos direitos das pessoas com deficiência, me vejo lutando por mim. Tem combustível melhor!?

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